Sou formiga, e estou diante de uma manada de elefantes e gafanhotos ferozes, insaciáveis na sua sangria desatada, onde nada os detém.
Ficaria calada, porque assim tudo fica mais fácil. Só que não posso mais, e a minha única arma é escrever nas poucas vias de comunicação que nos restam.
Onde está a justiça diante de tudo que tem acontecido na minha cidade. Só chovem denúncias, provas incontestáveis são apresentadas, a Justiça de primeiro grau, provocada e respaldada, faz sua parte, mas é subordinada à esfera superior e tudo fica como está. Alguém tem resposta?
O Ministério Público mesmo provocado por denúncias, por declarações de pais, por reclamações de professores, continua inerte. Não é atribuição do Ministério Público cuidar da infância e juventude. Não é um direito da criança, educação, alimentação, saúde, etc?
Para quem tem dinheiro e filho estudando em escola particular é fácil. Mas e a grande maioria que não tem?
Vocês sabem o que é tirar a parca merenda de um aluno da serra, do sertão ou mesmo das comunidades mais pobres, que fica ansioso por aquele lanche, que anda a pé até a escola, muitas vezes sem café da manhã?
Ano passada foi a mesma enrolação. Durante o ano letivo, só houve merenda durante um mês. E por coincidência foi arroz e feijão velho, arrecadados um show do Grêmio. Este ano, se nada for feito, vai ser igual.
A verba vem, e se perde no caminho. Fica em algum lugar, onde a fome é palavra que não existe, porque lá as pessoas fazem até 06 refeições por dia.
O medo cala os professores, as merendeiras, os enfermeiros. Tudo está bem.
O medo tem assolado a minha cidade. Os funcionários públicos municipais alienados, sem força nem sequer para reclamarem um direito seu, que é o depósito do INSS. Qual teria sido a finalidade de municipalizar a previdênci, senão desviar o dinheiro sem fiscalização?
A justiça do Trabalho reintegra os servidores e o prefeito-imperador descumpre e fica por isso mesmo. Então para que existem as leis? A constituição não vigora mais aqui? O Ipu não é mais Brasil? Tornou-se independente? Quando?
Em que cidade se fecha um hospital que serviu uma cidade por quase um século por birra? E as famílias dos setenta funcionários, como vão sobreviver? Isso é justo? Ou é mais justo se ater a números de estatísticas cujo resultado sempre vai beneficiar os protegidos? Se um prefeito demite Secretarias importantíssimas como a da Saúde, Ação Social e Educação, assim do nada, sem dar satisfação a ninguém, essa pessoa está preocupada com o Ipu? Por que o contrato dos médicos e funcionários é de apenas três meses? Quem é mais confiável, Dr. Luiz de Gonzaga ou Sávio Pontes?
O que mais me choca é ver que o poder para parar com toda essa impunidade se encontra na mão de ipuenses, eleitos pelo povo, para defender o povo, mas que tem respondido com traição. Gostaria de me orgulhar da Câmara, de vê-la exercer seu poder em prol dos humildes, famintos, doentes, dos cidadãos anônimos, esquecidos de que ainda são cidadãos e possuem direitos. Queria vê-los deixar de lado os interesses políticos, pessoais, passageiros, e unidos aos vereadores que não estão alienados, darem uma virada, protagonizarem uma história bonita de lealdade aos que neles depositaram seus anseios.
O tempo passa, haverá novas eleições, e caso a câmara não cumpra seu papel, é bom que o eleitor aprenda que muitas vezes o que parece bom, na realidade se torna uma pílula amarga e indigesta. Que a Câmara seja renovada. Que lá só fiquem aqueles interessados em defender o povo e não seu próprio bolso.
O poder emana do povo numa democracia, se os lunáticos que estão apoiando essas atrocidades não se posicionarem e assumirem seu papel de verdade, é bom que haja troco nas próximas eleições, que nenhum deles, mesmo que pague a peso de ouro seja reeleito.
Eu sou formiga, mas já que a Justiça, o TCM, e muitos outros órgãos não conseguiram, eu conclamo a Câmara para que crie vergonha e faça o que tem de ser feito.
Acorda Ipu. O povo esclarecido também tem poder.
Ana Aragão