sábado, 22 de maio de 2010

* O SENDEIRO – CEMITÉRIO DO IPU MOEDA DE TROCA.

Uma nuvem densa e ameaçadora levita sobre o Campo Santo do Ipu. Relâmpagos cortam a escuridão e deixam perceber falanges de espíritos inferiores num clamor mercenário em oportunista alegria, violando túmulos, desrespeitando a necessidade de paz dos que ali estão sepultados. Corujas negras distende suas asas levando pelo espaço milhares de mortalhas. Em frente ao Cemitério, centenas de cachorros com cara de gente, mais precisamente iguais a face do Raimundo Diogo, lançam no ar uivos tenebrosos deixando à mostra seus dentes caninos arreganhados para a cidade logo abaixo. No imenso portão de ferro da entrada postado no lado direito Nenem Torres incorporado na figura de um demônio contava cédulas, no lado esquerdo Magela Aragão com feições de um Exu segurava satisfeito diversas escrituras e equilibrava no ombro sua mulher num corpo em miniatura com os olhos de fogo da ganância arregalados para as cédulas. Eflúvios negativos emanavam do sorriso cínico do satanás maior Sávio Pontes pela insolência que atinge o direito de propriedade do povo, comprometendo o orçamento dos que ainda estão vivos, inquietando as almas, fazendo digladiar-se as forças espirituais e materiais na peleja do diabo com os mensageiros do dono do céu. O espírito de Abílio Martins inconformado com a venda do bem público e decepcionado com a postura política de sua família, fez uso de raivosa e suplicante oratória, mas fora porem interrompido pelos latidos de um dos cachorros com a cara do Raimundo Diogo, e no mesmo instante a Pomba Gira atuando na Carmem Pinto esbraveja futilmente:
__Vende, vende, vende! Basta dar-me uma comissão!
E uma asquerosa Assembléia composto pelo Belzebu Nonato Martins, o Lúcifer Nilson Rufino, a madame Satã Efigênia, o Satanás Fabuloso, o Demo Manoel Palácios, o Zumbi Chagas Peres, o Zé Pilintra Raimundo doido e o capeta Ivo Sousa, acompanhavam e faziam coro com a sacrílega manifestação:
__Vende, vende, vende! Basta dar-nos uma comissão!
Querubins encharcavam suas asas pelo pranto que desaguava para os abismos destas noites de angustia política que se abateu sobre o Ipu. Espíritos zombeteiros pulavam por sob os túmulos numa atitude profana, felizes pela vitória do mal que incidirá no orçamento das famílias ipuenses. As almas que já adquiriram evolução superior, de joelhos no cruzeiro, lastimavam a ascensão do material se sobrepondo ao espiritual. Entre as sepulturas vagavam imagens de santos segurando rosas de sangue, o anjo que adorna a cruz do túmulo do Cel. Marinho voou apavorado! E em todos os quadrantes do cemitério ouve-se as ordens das forças do mal intervindo e sendo representada na falanges de Vereadores mercenários do novo tempo:
__Vende, vende, vende! Basta dar-nos uma comissão!
Túmulos se abrem e as almas flutuam no meio das trevas com o olhar de desgosto e piedade mergulhados no infinito! Inconformado Zezé do Vale lamenta:
__Esta cidade se tornou um pedaço do inferno e não um pedacinho do céu!
No alto do túmulo da família, Abdias Martins exclamava:
__Fanico e Simão, vocês fazem jus ao titulo de traidores!
Corrinha Lima rezava em forma de versos que dizia a filha:
__Aldânia, homenagearam-me com uma praça com canteiros de muitas rosas, mas tua insensibilidade e falta de reconhecimento é o espinho destas mesmas rosas que cravaste no peito de minha alma!
E o povo indefeso rebatia as vibrações negativa que volita nestas noites de trevas e luto político, onde a desonestidade se condensa em AGRESÕES COLETIVAS, simplesmente rezando.
__Oh pai, desterra desta terra o herege Sávio Pontes!
Noites de expiação e contenda do capitalismo selvagem duelando com a espiritualidade, almas choram e solução, solidárias com seus parentes ainda vivos balbuciando sentida e misteriosa prece por este purgatório político que insepulta e inquieta até os mortos, nesta arbitrariedade em vender sua ultima morada.
Vende, vende, vende! Basta dar-nos uma comissão!
E uma voz do alto, imersa em suaves brumas azul celeste branda calmamente, mas com firmeza:
__EU TE ESCOMUNGO TRAPACEIRO SÁVIO PONTES E TUA FALANGE DE VEREADORES CORRUPTOS, O MEU GALARDÃO ANDA COMIGO PARA RECOMPENSAR CADA UM, SEGUNDO AS SUAS OBRAS.
E o sol então rebrilhará e sepultará em profunda e definitiva cova as noites sepulcrais do VELHO novo tempo.