segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

* O SENDEIRO - O APOCALIPSE DO IPU SEGUNDO UM IPUENSE.

Na décima sétima hora no quinquagésimo dia do antepenúltimo mês do segundo oitavo milênio, ouvi o retumbar de quinze trombetas que ecoava nos quatro ângulos da cidade sopradas por anjos insanos e decaídos, vi dragões irromperem dos bares, mocós e tocais vomitando ódios materializados em línguas de fogo ao mesmo tempo bradando alucinadamente o famigerado "já era" que ribombava pelos ares irrespiráveis desta cidade que se tornaria desde então a nova Babilônia. Espíritos libertinos voleitavam rapidamente em direção ao tesouro público da prostituta de ouro, alguns justos choravam lágrimas de dor que infiltrava no solo desta terra desdita. De todas as partes alcatéias de lobos famintos de bocas e estômagos ávidos para devorar o erário do povo e um deles com pele de ovelha travestido de santo, comedor de hóstias de joelhos encardidos de tanto hipocritamente se ajoelhar nas missas. Na verdade um ímpio, um intérprete de homem digno oriundo de um clã com fama duvidosa de bem feitores no teatro social do Ipu. Sorria cinicamente olhando para um prédio chamuscado de sangue de fachada mentirosa de entidade filantrópica, fazia o finório cálculos de quanto iria abocanhar da maior fatia ou se não o todo do dinheiro que se o governo federal destina à saúde. No pântano que a cidade se transformara cururus e jacarés pelejavam sequiosos para roubar a grande Arca digladiavam mandíbulas e bocas exalando o enxofre da corrupção que alcançava por todo o paredão de pedra da grande serra e bem maior que ela era sua sede e fome de urso depois de uma hibernação de quatro anos na avidez de roubar o dinheiro público. No centro da grande Babilônia espíritos impuros incorporados em macacos corriam apresados em direção ao tabernáculo em apupos matreiros e nas suas macaquices e já agora com o objetivo alcançado faziam gestos obscenos para o povo dando-lhes com suas ações bananas com o dedo. Os lucíferes (mirandas) davam apoio ao macaco maior na sua empreitada, um fariseu falava alto no meio do povo (feira) e já fazia ameaças se apresentando como cobrador de impostos (Rogério). Num outro ângulo da cidade aflorando por entre camas com doentes terminais que imploravam por melhor atendimento, elevava-se uma cobra, uma serpente vestida de linho branco expelindo fogo pelas narinas e equilibrando uma urna eletrônica abarrotada de dinheiro, apoiando a seus pés um manso bambi também de branco. Pelos ares pássaros voavam em enorme altura protegendo e conduzindo a paz e a liberdade para que não fosse extinta por bandos de cururus que queriam engoli-la como tentaram anos atrás tirar o direito do povo de falar, e se expressar nos programas de rádio da oposição. Observei em uma residência lençóis manchados de sangue e um querubim pequenino e vermelho fazia ressoar a sétima trombeta anunciando a morte de sua amante loura, neste momento a bica jorrava águas avermelhadas similares a lágrimas de sangue que não serviriam para a veia poética de Zezé do Vale nem Oswaldo Araújo. E neste instante de dor uma mulher voava conduzida por seres alados em direção à Fortaleza, levando na mão esquerda um coração transpassado pela espada da traição do povo, e em sua cabeça a coroa de louros pela consciência do dever cumprido. No alto da imensa igreja fugiam pela torre São Sebastião e os quatro Evangelistas apavorados e a estátua do Cristo Redentor cobria os olhos com as mãos exclamando: "PAI, AFASTA DE MIM ESTE CÁLICE ! "